Bebo, Logo Existo
bebedeira não é pecado

Hoje de manhã, na minha
obrigatória ida à Adega Amável, o João, enquanto
enchia um copo de vinho, lá começou a cantarolar
o "seu refrão" do "Tudo isto é Fado": "Copos
erguidos/Aos bons enchidos/Com pão caseiro/Junto
ao Balcão/Está o João/ O dia inteiro/ Há vinho
bom/ E até Moetchandon/Muito agradável/ Tudo
isto existe/ Só aqui há disto/Isto é o Amável"!
E rematou com uma das suas habituais frases
publicitárias aos seus produtos: "Um copo de
supertinto pela manhã é o melhor talismã"!
Soltei um "In vino veritas" e brindei com ele. A
frase latina (há quem defenda a sua origem
grega), deu título a um ensaio de Kierkegaard,
sobre os discursos do amor no Banquete de
Platão. Sugeri então ao taberneiro que renovasse
o seu stock dos típicos aforismos sobre o vinho
que decoram as paredes da sua taberna (e de
todas) com frases da sua autoria (e são muitas)
e, porque não, ao lado de citações filosóficas
sobre o "néctar dos deuses". Foi assim que na
internet descobri o livro "I Drink, therefore I
Am" com o sub título de "A Philosopher Guide to
Wine". De facto se a verdade se encontra no
vinho, que melhor instrumento de trabalho para
quem a procura? Quem sabe se a "Tese, Antítese e
Síntese" da Dialéctica Hegeliana não foi
inspirada a copos de Rosé, a síntese de brancos
e tintos? Porém, embora sem ter nada de relevo
sobre o assunto, Hegel dá o seu nome a um vinho
tinto frutado alemão, da região de Weiseberg.
Curioso é saber-se que Hegel encomendava de vez
em quando umas garrafas de Pontac. Ora M. Pontac
era o proprietário do Chateau Haut-Brion, onde o
inglês John Locke escreveu uma das suas obras.
Sabendo das divergências entre os "empiricistas"
ingleses e os seus "especulativos" colegas
europeus continentais, podemos dizer que pelo
menos o vinho os aproximava. Kant apreciava o
espumante, em especial um das Canárias. De
acordo com um seu biógrafo, gostava tanto que
algumas vezes não dava com o caminho de regresso
a casa. Devia ter seguido conselho do seu colega
Aristóteles, que aconselhava comer repolho para
evitar a bebedeira. Talvez fosse a receita do
Treme, Treme, em cuja parede da sua antiga
taberna, em Faro, estava escrito "Depois de
muito beber/Quando à noite daqui saio/ Treme,
treme, posso tremer/Mas cair é que não caio!".
Como não tenho a certeza nem me interessa muito
saber se os filósofos actuais passam mais tempo
bêbados do que a pensar, termino com um
silogismo de São Tomás de Aquino: "Todo o pecado
tem um correspondente contrário...assim como a
timidez se opões ao atrevimento... Mas nenhum
pecado se opõe à bebedeira. Logo, a bebedeira
não é pecado"! (in Summa Theologica) SAÚDE!.